O que são transtornos alimentares?

Karla Milena Bornelli

4/10/20253 min read

Os transtornos alimentares são condições graves que envolvem muito mais do que escolhas alimentares. Trata-se de quadros psicológicos complexos, que afetam profundamente a saúde física, emocional e relacional dos indivíduos. Muitas vezes silenciosos e estigmatizados, esses transtornos podem comprometer significativamente a qualidade de vida, exigindo acolhimento e acompanhamento especializado.

Uma relação disfuncional com o corpo, a comida e as emoções

Mais do que um comportamento alimentar alterado, os transtornos alimentares revelam um vínculo adoecido com a alimentação, com o corpo e com as próprias emoções. Costumam estar associados a uma preocupação excessiva com o peso, a forma corporal e o desejo de controle sobre a ingestão alimentar.

Essa busca por controle pode desencadear práticas extremas, como:

  • Restrições alimentares severas;

  • Comportamentos compensatórios, como indução de vômitos, uso de laxantes ou jejuns prolongados;

  • Episódios de compulsão alimentar, marcados por grande ingestão de alimentos em pouco tempo, acompanhada de sentimentos de culpa, angústia ou vergonha;

  • Rigidez alimentar extrema, com dietas altamente restritivas ou “proibições” autoimpostas.

Vale destacar que esses comportamentos não surgem por vaidade ou falta de força de vontade. São manifestações de um sofrimento psíquico mais profundo, muitas vezes enraizado em traumas, baixa autoestima, dificuldades emocionais ou em pressões socioculturais relacionadas à aparência física.

Principais tipos de transtornos alimentares

Embora existam diversas formas de manifestação, os transtornos mais comuns e reconhecidos são:

Anorexia Nervosa

Caracteriza-se por uma intensa restrição alimentar, medo persistente de engordar e distorção da imagem corporal. Pessoas com anorexia podem se ver acima do peso, mesmo estando abaixo do peso ideal, e adotam medidas extremas para emagrecer, pondo em risco a própria saúde.

Bulimia Nervosa

Envolve episódios de compulsão alimentar seguidos por comportamentos compensatórios, como vômitos induzidos, uso de laxantes ou jejuns severos. A bulimia costuma estar associada a um ciclo de culpa, vergonha e sofrimento emocional intenso.

Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP)

Caracteriza-se pela ingestão exagerada de alimentos, em curto período de tempo, acompanhada de sensação de perda de controle. Ao contrário da bulimia, não há práticas compensatórias regulares. O transtorno pode coexistir com quadros de obesidade, ansiedade ou depressão.

Causas multifatoriais: não é uma questão de escolha

Um ponto fundamental a ser compreendido é que transtornos alimentares não são escolhas. São transtornos mentais multifatoriais, resultantes de uma combinação de aspectos:

  • Psicológicos: baixa autoestima, perfeccionismo, controle excessivo, ansiedade, depressão;

  • Emocionais: dificuldade em lidar com frustrações, emoções negativas ou traumas;

  • Biológicos: predisposição genética, alterações neuroquímicas e hormonais;

  • Socioculturais: idealizações estéticas, influência das redes sociais, cultura da dieta, gordofobia e pressão por desempenho.

Além disso, qualquer pessoa pode ser afetada por um transtorno alimentar — independentemente de idade, gênero, classe social ou tipo corporal. Muitas vezes, o sofrimento está presente mesmo sem sinais visíveis no corpo, o que torna o diagnóstico ainda mais delicado.

Quando buscar ajuda?

Se você percebe uma relação conturbada com a comida, vive em constante insatisfação com o corpo, sente culpa ao se alimentar ou está em um ciclo de restrição e compulsão, é importante buscar apoio.

Os transtornos alimentares podem ser tratados — quanto mais precoce for o acolhimento, melhores são as chances de recuperação. O acompanhamento psicológico é essencial para:

  • Compreender os fatores que originam e mantêm o transtorno;

  • Desenvolver habilidades emocionais de enfrentamento;

  • Construir uma nova relação com o corpo e com a alimentação;

  • Promover o resgate da autoestima, da autonomia e da qualidade de vida.

Considerações finais

Transtornos alimentares não são vaidade, exagero ou "frescura". São manifestações de sofrimento emocional que merecem acolhimento, empatia e tratamento especializado. Falar sobre o tema, desconstruir estigmas e oferecer espaços seguros para escuta é uma forma de cuidado e prevenção.

Você não está sozinha. Buscar ajuda é um gesto de coragem e de cuidado consigo. 🤍

📩 Se você reconhece sinais de sofrimento alimentar em si ou em alguém próximo, não hesite em procurar apoio psicológico. Juntas, é possível trilhar um caminho de reconstrução, saúde e bem-estar.

Karla Milena Bornelli
Psicóloga Clínica | CRP 08/45303
@psico.karlamilena
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